sábado, 24 de novembro de 2007

Paper Tigers - Uma tradução de "The Tyger" de William Blake


Apresento humildemente uma tradução original do poema "The Tyger", poema clássico de William Blake. Tentei atingir um certo equilíbrio entre a música da palavra e a força das imagens evocadas, já privilegiadas respectivamente nas traduções de Augusto de Campos e José Paulo Paes, que transcrevo aqui juntamente com o original de Blake. Para quem quer mais informação, sugiro consultar www.blakearchive.org. A iluminura ao lado é de William Blake e foi obtida nessa maravilhosa fonte.

O Tigre

Tigre! Tigre! luminoso açoite
Que arde nas florestas da noite,
Que imortal mão & maestria
Forjaram-te a medonha simetria?

Em que distante abismo e breu
Queimou o fogo desses olhos teus?
Qual o fole que lhe inflamou?
Que mão colher o fogo ousou?

E qual o ombro, & que artesão
Pôde torcer as fibras do teu coração?
E quando primeiro bateu esse coração
Que terrível pé? & que terrível mão?

Qual o martelo? Quem o malha?
O teu cérebro, em que fornalha?
Que bigorna? Que tenaz pôde agarrar
Teus mortais terrores e os pinçar?

Quando como lanças as estrelas desabaram
E com lágrimas o paraíso inundaram
Terá ele contemplado seus trabalhos a sorrir?
Quem fez o Cordeiro fez também a ti?

Tigre! Tigre! luminoso açoite
Que arde nas florestas da noite,
Que imortal mão & maestria
Forjaram-te a medonha simetria?


The Tyger

Tyger! Tyger! Burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder, & what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart begun to beat,
What dread hand? & what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the starts threw down their spears,
And watered heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the lamb made thee?

Tyger! Tyger! Burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?


O Tigre (José Paulo Paes)

Tigre, Tigre, viva chama
Que as florestas da noite inflama,
Que olho ou mão imortal podia
Traçar-te a horrível simetria?

Em que abismo ou céu longe ardeu
O fogo dos olhos teus?
Com que asas ousou ele o vôo?
Que mão ousou pegar o fogo?

Que arte & braço pôde então
Torcer-te as fibras do coração?
Quando ele já estava batendo
Que mão e que pé horrendos?

Que cadeia? que martelo,
Que fornalha teve o teu cérebro?
Que bigorna? Que tenaz
Pegou-lhe os horrores mortais?

Quando os astros alancearam
O céu e em pranto o banharam,
Sorriu ele a ver seu feito?
Fez-te quem fez o Cordeiro?

Tigre, Tigre, viva chama
Que as florestas da noite inflama,
Que olho ou mão imortal podia
Traçar-te a horrível simetria?


O Tigre (Augusto de Campos)

Tigre! Tigre! brilho, brasa
Que a furna noturna abrasa,
Que olho ou mão armaria
Tua feroz simetria?

Em que céu foi se forjar
O fogo do teu olhar?
Em que asas veio a chama?
Que mão colheu esta flama?

Que força fez retorcer
Em nervos todo teu ser?
E o som do teu coração
De aço, que cor, que ação?

Teu cérebro, quem o malha?
Que martelo? que fornalha
O moldou? que mão, que garra,
Seu terror mortal amarra?

Quando as lanças das estrelas
Cortaram os céus, ao vê-las,
Que as fez sorriu talvez?
Quem fez a ovelha te fez?

Tigre! Tigre! brilho, brasa
Que a furna noturna abrasa,
Que olho ou mão armaria
Tua feroz simetria?

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