quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Uma coisa muito pequena


Uma vez li a seguinte definição de arte: "A arte é uma coisa muito pequena. Realmente uma coisa pequeninha". Não lembro quem disse isso. Eu às vezes ouço elogios pela minha memória, mas não entendo por quê, eu vivo esquecendo as coisas. Do que eu estava falando mesmo? Ah, do Wes Anderson.


Eu acho que o Wes Anderson faz sempre o mesmo filme. Pronto. Falei. Mas é um raio de filme bonito pra caramba!


Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited) não é exceção. É o mesmo filme que Bottle Rocket, Rushmore, The Royal Tenenbaums, The Life Aquatic, e até mesmo A Lula e a Baleia do seu cupincha Noah Baumbach. Por que diabos eu gosto tanto desse mesmo filme?


Em primeiro lugar pela irrealidade. Sim, pela irrealidade. A arte pode ser uma mimese mais ou menos literal da vida. Mas eu prefiro quando ela é caricatural, burlesca, exagerada, pois seu significado simbólico fica mais sublinhado. O meu negócio é arte estilizada. Bom, um cara que idolatra o Tom Waits...


Em segundo lugar pelo humor. Os sisudos que me desculpem, mas eu preciso rir da vida. Ainda mais quando as coisas ficam pesadas. E o Wes Anderson é essencialmente um gozador.


Em terceiro lugar pela repetição. A recorrência de temas, de atores, da mesma fonte, da mesma fanfarra, são sempre os mesmos elementos que voltam e voltam. E dentro de cada filme há detalhes explorados à exaustão, como as malas Louis Vuitton com estampas de bichinhos em Viagem a Darjeeling. Existem artistas que são prolíficos, abundantes, que se desdobram em vários como um Fernando Pessoa, e outros que concentram seu foco como um raio laser em repetir a mesma operação, minuciosa e dedicamente, como um João Gilberto trancado no banheiro a inventar a Bossa Nova. Uma linguagem em miniatura, microscópica, delicada, econômica, essencial. Uma coisa pequena. Realmente, uma coisa muito pequeninha.


Pra finalizar, devo dizer que concordo com o crítico que disse: "Os fãs de Wes Anderson irão gostar desse filme". Sim, porque ele já fez o mesmo filme melhor no passado. Para quem não viu nada e quer começar agora, estará melhor servido com Os Excêntricos Tenenbaums ou A Vida Marinha. Para os fãs de plantão, não tenho nada que dizer. Vocês já viram mesmo...






2 comentários:

Cacilda Becker disse...

Lembrei de uma crítica que eu li na Veja:
http://veja.abril.com.br/211107/veja_recomenda.shtml

Taciano disse...

Pois então, uma coisa que eu acho estranha são as comparações que fazem entre os filmes dele. Já vi consdierarm Rushmore (Três É Demais, no lamentável título brasileiro) a obra prima dele, já ouvi o mesmo sobre Os Excêntricos Tenenbaums... de um modo geral malham A Vida Marinha, que para mim é o filme melhor acabado. Por quê será que há essa variedade tão grande de opiniões? Na minha opinião os filmes são todos o mesmo!